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Curta metragem integrante da Mostra Nacional Competitiva 3, Rebento (2019, 18’), do diretor baiano Vinicius Elizário, começa no retorno de uma noite de paredão, quando Pedro (Pedro Riccardo), o Zóio e Lôro (Gabriel Piedade), homens negros jovens e Jéssica (Jéssica Moura), mulher negra jovem, voltam pra casa. Na resenha da festa, a omissão do namorado aos comentários violentos e irônicos de seu amigo, nos apresentam as personagens que compõem a engrenagem do eixo da trama.
Enquanto pede desculpas à Jéssica, Zói recebe a atenção e o cuidado de sua mãe, Jussara (Julieta Nascimento) preocupada sobre a violência contra jovens negros nas comunidades periféricas de Salvador. Apreensão que permeia os corações de muitas famílias matriarcais, mães e avós negras que cuidam da continuidade de suas linhagens. Diferentes fases da maternidade negra são apresentadas, cabendo à condição de filha a partilha das responsabilidades na condução da casa e da família. A narrativa traz à luz violências como o abandono, o bullying, a culpabilização e responsabilização da mulher pela gravidez, tonificando diretamente a construção das subjetividades que a compõem.
Ao pensar a dimensão dos desdobramentos da gravidez, Zóio é atravessado pelo flashback da ausência paterna e revive os traumas gerados por essa falta. Mas a necessidade de encontrar um meio de vida o obriga a atropelar o tempo desses sentimentos, e a caminho da entrevista de trabalho pelas ruas e metrô de Salvador, nos revela um registro cinematográfico das mudanças urbanas ocorridas na cidade nos últimos dez anos (2010-2020), ambientação para a narrativa e registro do contemporâneo contexto social do personagem.
Acessando o único corpo masculino da trama além do seu, Pedro ouve o amigo Lôro, trabalhador do tráfico, propor o abandono da criança ea negativa da paternidade quase como um método, revelando comum a desimplicação do homem sobre a criação e o desenvolvimento dos seres que eles também geram. O reconhecimentoo do amigo por suas “habilidade com números lhe oferecendo um trabalho, registra às alternativas de futuro do homem jovem negro periferico, com enfase a reflexão sobre o “tempo” diferenciado a quem vive à mira do sistema opressor e genocida de tantos futuros.
A lembrar das palavras da mãe na infância, Pedro chora e tem as lágrimas amparadas por ela que o encoraja com a sua própria história apontando a sua vida adulta como o resultado magno do amor concebido por ela e sua avó, sem contudo romantizar essa realidade, vertendo o afeto a cena ao som da dramática interpretação de Elis Regina para a música “Rebento”, de Gilberto Gil .
“Um dia você não será essa falta” sintetiza a expectativa desta mulher que transborda sua presença nas lacunas negadas pelo genitor, na tentativa de tornar seu filho um homem responsável.
este texto foi produzido como parte da Oficina Corpo Crítico – Experimentações Críticas por um Cinema Implicado, ministrado pela crítica Kênia Freitas, durante o 22º FestCurtasBH.
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