.[2019]/2º corpo crítico
por: Kênia Freitas
dias: 03 a 06 de Setembro
horário: 10h30 às 12h
local: Teatro João Ceschiatti - Palácio das Artes
carga horária: 10 horas
vagas: 10
.cinema em perspectivas: reconfigurações do fazer crítico
Apresentação
Em um momento de reconfiguração cultural das dinâmicas sociais, raciais, de gênero e sexualidade, torna-se urgente pensar também a crítica de cinema em perspectivas múltiplas e localizadas. Perspectivas que fomentem a formação de novos públicos e a ampliação do repertório canônico. Abordar os vários lugares de fala dos filmes, da recepção e da crítica deve ser uma prática do incentivo à observação e à escuta – e não do silenciamento dos debates. Mais do que apenas um enfoque temático, o convite feito pelos encontros do Corpo Crítico 2019 será o de perceber, nos filmes, como conteúdo e forma complementam-se e articulam-se.
Essas articulações podem despertar uma série de questionamentos: como são trabalhados a focalização, os pontos de vistas e os enquadramentos das narrativas? Como representação e representatividade podem ser pensadas para além da visibilidade? Quais os tensionamentos possíveis entre opacidade e transparência nos discursos políticos dos filmes? Como os gêneros narrativos (e as suas subversões) contextualizam e/ ou contestam ideologias e visões de mundo dadas? Mais do que responder a essas questões, propomos o exercício coletivo de pensar com elas, por meio da elaboração crítica em torno dos filmes exibidos no Festival.
Se historicamente esse exercício de reflexão analítica feito por um grupo identitário localizado – em geral homens, brancos, intelectuais, de classes médias e altas – reinvindicou-se como universal, um dos desafios da atualidade é o de ressituar o fazer crítico, assumindo os seus locais de enunciação, pontos de vistas e construções de mundo. Um desafio que será pensado coletivamente durante os encontros do Corpo Crítico do FestCurtasBH 2019.
.objetivos
Pensar a crítica cinematográfica a partir de perspectivas múltiplas que fomentem a formação de olhares diversos e a ampliação dos repertórios
fílmicos e textuais.
Refletir sobre as formas de enunciação na produção, recepção e na crítica cinematográfica, considerando os lugares de fala e escuta, as focalizações e enquadramentos narrativos e a multiplicidade de pontos de vistas diante de uma obra.
Abordar questões formais do que pode ser o texto crítico, levando em consideração a variedade de formatos atuais e as necessidades de reconfigurações do modelo cânone.
Relacionar os elementos formais da constituição dos filmes (gêneros/subgêneros, estilos, campos, etc.) e a construção de discursos e visões sobre o mundo.
Discutir questões de representação e representatividades políticas para além da visibilidade e transparência.
Fomentar e orientar a produção de textos dos inscritos sobre os filmes exibidos no festival.
.programa dos encontros
Encontro 1. Lugares de enunciação no cinema
Quais são os lugares e as formas de enunciação dos filmes? Para além da articulação temática e discursiva, esse primeiro encontro da oficina será dedicado a pensar os elementos estéticos e formais (enquadramento, pontos de vista e focalizações) das narrativas cinematográfica como maneiras de enunciar.
Referências:
hooks, Bell. “O Olhar Opositivo: Espectadoras Negras”. In: SIQUEIRA, Ana [et al]. Festival Internacional de curtas de Belo Horizonte (catálogo). Belo Horizonte: Fundação Clóvis Salgado.
LIU, Rebecca. “A Criação da Mulher Millennial”. In: Verberenas. Tradução Glênis Cardoso.
Disponível em: https://www.verberenas.com/article/a-mulher-millennial/
MOMBAÇA, Jota. “Notas estratégicas quanto aos usos políticos do conceito de lugar de fala”. In: Buala, 2017.
Disponível em: http://www.buala.org/pt/corpo/notas-estrategicas-quanto-aos-usos-politicos-do-conceito-de-lugar-de-fala
“Para todas as moças” (Castiel Vitorino Brasileiro, Brasil, 2019)
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7wCsV2LhLTE&t=13s
“Línguas Desatadas” (“Tongues Untied”, Marlon Riggs, 1989)
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Encontro 2. O que pode ser o texto crítico?
O segundo encontro discutirá as definições e subversões do que é e o que pode ser a crítica de cinema. Do consagrado formato escrito ao vídeo ensaio, passando por outros experimentos com hipertextos na internet, propõe-se a discussão de quais são as funções e objetivos da reflexão crítica.
Referências:
DANEY, Serge. “A derrota do pensamento (crítico)”. Tradução Calac Nogueira. In: Contracampo.
Disponível em: http://contracampo.com.br/100/artderrotadopensamento.htm
GRANT, Catherine. “Métodos Audiovisuais Para Estudos de Cinema e Mídia”. Palestra de abertura Socine 2017.
Disponível em: https://catherinegrant.files.wordpress.com/2017/10/socine-keynote-final-low.pdf
FREITAS, Kênia. Fio do Twitter sobre “Nós” (“Us”, Jordan Peele, 2019).
Disponível em: https://twitter.com/kenialice/status/1111105047142825985
Ensaios audiovisuais em português (Seleção curada por Catherine Grant).
Disponível em: https://vimeo.com/showcase/4810167
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Encontro 3. Elementos formais e a constituição de discursos.
Como podemos pensar as diversas configurações de codificação narrativa do cinema na constituição de discursos sobre o mundo? O terceiro encontro abordará como as convenções de gênero e campo dos filmes podem ser percebidas na constituição dos discursos narrativos e também a relação existente entre repertório cinematográfico e enquadramento crítico.
Referências:
ALMEIDA, Carol. “Contra a velha cinefilia: uma perspectiva feminista de filiação ao cinema”. In: Fora de Quadro.
Disponível em: https://foradequadro.com/2017/09/19/contra-a-velha-cinefilia-uma-perspectiva-feminista-de-filiacao-ao-cinema/
AUGUSTO, Heitor. “Problema só dos filmes ou o problema também somos nós?”. In: Urso de Lata.
Disponível em: https://ursodelata.com/2017/02/09/problema-so-dos-filmes-ou-o-problema-tambem-somos-nos-mostra-de-tiradentes/
FREITAS, Kênia. “Fabulações críticas em curta-metragens negros brasileiros”. In: Multiplot.
Disponível em: http://multiplotcinema.com.br/2019/03/fabulacoes-criticas-em-curta-metragens-negros-brasileiros/
“Alma no Olho” (Zózimo Bulbul, 1974).
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8SI7XV7L0uE
Pumzi (Wanuri Kahiu, 2009).
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IlR7l_B86Fc
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Encontro 4. Representações estéticas e políticas - além da visibilidade
O quarto encontro abordará como podem ser pensadas pela crítica de cinema as questões de representação e representatividade estética e política. Para além da presença de corpos diversos e um discurso político transparente, de que outras formas os filmes elaboram tais questões?
Referências:
GALINDO, Bruno. “Manifesto do Futuro”. In: Sessão Aberta.
Disponível em: https://sessaoaberta.com/2018/11/07/livre-manifesto-de-um-jovem-negro-critico-de-um-critico-negro-jovem-de-tudo-ao-mesmo-tempo/
WOOD, Robin. “Responsabilidades de um crítico gay de cinema”. Tradução: Heitor Augusto. In: Urso de Lata.
Disponível em: https://ursodelata.com/2015/10/10/traducao-responsabilidades-de-um-critico-gay-de-cinema/
GLISSANT, Édouard. “Pela Opacidade”. In: Poétique de la relation. Revista Criação & Crítica, n. 1, p. 53-55, 2008. Tradução: Henrique de Toledo Groke e Keila Prado Costa.
“Reassemblage” (Trinh T. Minh-ha, 1982).
Disponível em: https://vimeo.com/274033791
“Fantasmas” (André Novais Oliveira, 2010).
Disponível em: https://vimeo.com/33656296
.ministrante
Kênia Freitas é pós-doutoranda do Programa de Pós-graduação em Comunicação da UNESP. Doutora em Comunicação e Cultura, pela UFRJ. Mestre em Multimeios, pela Unicamp. Formada em Comunicação Social/Jornalismo, pela UFES. Realizou a curadoria das mostras Afrofuturismo: cinema e música em uma diáspora intergaláctica (Caixa Belas Artes/SP, 2015), A Magia da Mulher Negra (Sesc Belenzinho/ SP, 2017) e Diretoras Negras no Cinema Brasileiro (Caixa Cultural/DF e RJ, 2017; Sesc Palladium/MG, 2018). Escreve críticas para o site Multiplot! e integra o Elviras (Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema).